29 de junho de 2010

Figuras intrigantes e astutas...




A figura do palhaço permeia diferentes manifestações das culturas populares,
este arquétipo que habita o imaginário dos povos vem se manifestando em diferentes
formas por aqui atuando em folguedos e brincadeiras. Como sabemos
nosso país é composto por uma mistura étnica, cultural e religiosa recorrente de
uma história de colonização e escravidão.
Os palhaços que encontramos são conseqüentemente frutos dessa mistura. Figuras
intrigantes e astutas. Símbolos transgressores, anjos e demônios. Como dizem
os índios da tribo Kraôs : “Os sacerdotes do riso”.


Mas quem são os palhaços da cultura popular brasileira? Onde estão essas figuras?


Na região sudeste por exemplo, conhecemos o palhaço Bastião da Folia de Reis,
também denominado Marungo o soldado de Herodes encarregado de matar o
Menino Jesus e/ou salvá-lo variando a sua função no folguedo conforme a interpretação
de cada região. Essa manifestação vem de uma tradição portuguesa
que ganhou força especialmente no século XIX e se mantém viva em muitas regiões
do país, sobretudo nas pequenas cidades dos estados de São Paulo, Minas
Gerais, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, dentre outros.
No nordeste há a forte presença do Velho, um palhaço do Pastoril Profano que integra
o ciclo das festas natalinas, particularmente, em Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte e Alagoas. Este espetáculo por sua vez, é uma releitura do Pastoril
Natalino que conta de forma didática a chegada de Jesus na Terra. O profano
que surge com a figura do Velho e suas pastorinhas brinca com astúcia através
das metáforas e duplos sentidos, parodiando tudo e todos. Este tipo inspirou o
apresentador de televisão Chacrinha nascido na mesma região e que possuía
traços muito parecidos com os velhos do Pastoril Profano.
Tais figuras, tão nossas e tão distantes, parecem dialogar de outras formas com
o espaço e o tempo.
Os Mateus, por exemplo, figura palhacesca presente em folguedos de Bumbameu-
Boi, Cavalo-Marinho e demais variantes, dão-nos a impressão de surgirem
diretamente das entranhas da terra com a cara pintada de preto- carvão ,
personificando a força ancestral negra através das danças, ritmo e mandingas.
Apresentam-se geralmente nas ruas, pisando e dançando firme no chão de terra,
pela noite, madrugada e muitas vezes manhã à dentro.

Toda situação carrega características próximas do que se define como ritual, onde
o tempo e o espaço transcendem a leitura linear cotidiana e se tornam cíclicos e
orgânicos, comungando com as leis da natureza.
E de quantas formas diferentes manifesta se
o palhaço brasileiro!
Mandingas, duplos sentidos, loas, trupés, bexigadas de boi, carvão moído, bengala
de cobra, caretas, chapéus de cone...Dentro de um universo cultural exuberante
eles foram se configurando aos poucos nessa pesquisa, tomando formas
e criando novas possibilidades de estudo e despontando para novos questionamentos
e ensinamentos.
Se o palhaço nasce e desponta em cada canto por uma mesma necessidade coletiva
de um olhar diferente sobre o mundo, porque não enxergarmos através de
nossos palhaços e pelas suas retinas o desenhar de uma nova poesia?









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